25/08/2016

"Essa foto tu vai vender, né?"

Na quinta passada, iniciei o texto "O que você vai fazer com esta foto?" relatando perguntas comuns que quem viaja e fotografa costuma ouvir; o artigo seguia questionando a forma como nós fotógrafos somos abordados dentro de espaços públicos e privados, sem dúvida um resquício de comportamento analógico nesses tempos digitais que vivemos. 

Já hoje a idéia é conversar um pouco sobre outro tipo de pergunta, a que intitula o texto. Melhor começar do começo, com um exemplo real.

Terça, 16 de agosto, meio da tarde. Estou fotografando com a Nikon L330 a fachada da Catedral Metropolitana Basílica do Senhor Bom Jesus, sede da arquidiocese de Cuiabá, quando um cidadão se aproxima e me pergunta se a reforma está pra começar, né? Sem fazer a menor idéia de a que ele se referia, respondi apenas que não tinha essa informação. Ele então me disse que achava que eu estava fotografando em função da reforma que vai haver no prédio, então confirmei que não sei nada a respeito, que as fotos eram pro meu blog. Aí o cidadão veio com uma variação da pergunta que intitula o texto: Ah tá, essas fotos tu vende né? Acabei dizendo que sim né (risos) e em seguida entrei na catedral, um prédio relativamente recente (foi consagrada em 1973, substituindo a anterior, construída entre 1739 e 1740 e demolida em 1968), onde fiz a foto deste vitral que vemos aqui no post. 

Esse tipo de pergunta sobre a possível venda das fotos que fazemos por aí é bastante comum e não deixa de ser tão intrigrante quanto a do que vamos fazer com a foto (aliás, não deixa de ser uma variação daquela, só que aqui já supondo um destino específico). Em geral eu acabo mesmo dizendo que é pra vender, até porque isso geralmente sacia a curiosidade da pessoa e encerra o assunto. E por que considero a pergunta intrigante?

Porque ela supõe que haveria um imenso mercado para a fotografia que, na realidade e infelizmente, não existe. A possibilidade de eu tirar uma foto da Catedral de Cuiabá, por exemplo, e conseguir vendê-la para algum veículo de comunicação ou site é basicamente nula. Talvez quando o profissional tenha a sorte de efetuar um registro que tenha valor jornalístico, ele possa contar com jornais e sites interessados em pagar pelos direitos de reprodução daquela imagem. Mas aí seria mais um lance de sorte do que de um mercado real mesmo. 

(E não pensem que isso é algo dessa era digital que já citei antes, em que todo mundo tem em mãos aparelhos que filmam e fotografam. Já era assim ali por 1992/93, quando, ainda morando em Bento Gonçalves, RS, resolvi fotografar eventos por conta própria para tentar vender as fotos para os jornais da cidade. Lembro que cheguei a cobrir uma etapa do campeonato de canoagem em Santa Tereza, município vizinho; não houve interesse nem dos jornais, nem da própria entidade que promovera o evento. Na época, havia ainda o custo da revelação/impressão da foto - não havia ainda foto digital -, ao que se devia somar a demora em ter a imagem disponível: só na segunda de manhã você poderia mandar revelar um filme batido no final de semana, e a foto teria que estar em sua mão no máximo na quarta, mesmo dia em que os jornais fechavam a edição de sexta, único dia em que a maioria dos jornais de Bento circulava. Enfim, não compensava meeeesmo.)

Inexistindo esse mercado que muitos imaginam que haveria para nossas fotos, seguimos fotografando na esperança de que, ao circular pelo mundo, as imagens que produzimos possam manifestar a dedicação que colocamos em cada clique, mostrar que temos equipamentos que poderão produzir um bom registro do seu evento, demonstrar que podemos fazer uma boa edição do material que viermos a produzir para você, e assim, indiretamente, gerarem negócios vantajosos para ambas as partes. 
:) 






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