28/07/2016

Meu primeiro quase site

Recentemente, postei no LinkedIn um artigo detalhando minha trajetória como autor de blogs. Outro dia, pensando sobre o assunto, me ocorreu que jamais contei por escrito a história do site que eu planejei ainda nos anos 90 (uau! rs) mas que não saiu do papel. Foi, por assim dizer, meu primeiro quase-site. E, sim, ele tem tudo a ver com fotografia. 

Ali por 1999, a internet no Brasil já tinha 3 anos e eu contava com quase uma década como fotógrafo (iniciara oito anos antes em Bento Gonçalves-RS, como já contei aqui). Desde 1994 morando em Porto Alegre, acumulava já um belo e numeroso acervo retratando recantos históricos e naturais da capital gaúcha. Paralelamente, também vinha atuando como cartunista, recebendo até alguns menções honrosas em salões realizados na Região Metropolitana da capital, e cheguei a pensar em criar cartões, ou melhor, cartuns postais, porém esbarrei no alto custo que teria com gráficas e também com a questão de como gerenciar os contatos com as livrarias (na época, o contato seria basicamente presencial, o que ficava difícil para quem, como eu, trabalhava em horário comercial). De modo que, se não funcionava para os cartuns, a opção 'postais' também não iria funcionar para as fotos.





Enfim, me pareceu interessante aproveitar a internet para ganhar algum dinheiro com minhas fotos. E internet em 1999 era sinônimo de site. Já havia blogs brasileiros, mas o novo formato só foi se popularizar quatro anos mais tarde. Se eu já soubesse da possibilidade de ter um blog em '99, essa história poderia ser diferente ;)

Na época eu não entendia nada de HTML (só fui estudar a linguagem quando assumi a edição do meu primeiro site, o Brasileirinho, no começo de 2003) - aliás, pouco entendia de internet, pois só vim a acessar regularmente a rede (ainda assim, em conexão discada), quando ganhei um PC de minha mãe em 2000, já visando a realização do meu TCC (trabalho de conclusão de curso, que na época chamávamos mesmo monografia) no ano seguinte. Mesmo assim, lia nas revistas que havia fotógrafos faturando através da internet com seu trabalhos e resolvi ao menos me informar a respeito. 

Então um belo dia estava eu num escritório de design (ainda não se falava webdesign) em Porto Alegre (creio que indicado por algum colega da Faculdade de Comunicação) para tratar do meu talvez-futuro-site. Mesmo sem ter entrado em nenhum site na vida até então, me aventurei a levar um esboço de como eu pensara a navegação da página (ousado! risos) - a bem da verdade, há uma certa lógica meio inevitável na webnavegação, então não chegou a ser assiiim uma façanha, mas beleza, prossigamos. 

O escritório que visitei certamente tinha pessoal e recursos específicos para fazer sites, mas esta não era bem a praia deles. Isso porque antes da popularização da banda larga, havia um bom mercado para CD-Roms temáticos; o escritório que eu visitei era especializado em criar CDs para cursos (hoje eles estariam gravando videoaulas para o YouTube). De modo que, conforme a conversa com eles avançava, o futuro-site ia virando quase-site, por dois motivos. 

O primeiro: eles me informaram que não haveria como eu faturar com as fotos pela simples visita de internautas ao site; eu teria que criar algum mecanismo para efetuar alguma venda, ou de algum modo remeter o visitante a ações rentáveis offline. Ok, lição aprendida, veio o tiro de misericórdia com o segundo motivo: o escritório cobraria R$ 7.200,00 para criar o meu site. Vamos repetir: SETE MIL E DUZENTOS REAIS! :o

Para ter uma ideia do que isso representava em 1999, basta dizer que o salário mínimo em maio daquele ano passara a valer R$ 136,00. Ou seja, o meu futuro-site custaria a bagatela de quase 53 salários mínimos (praticamente quatro anos e meio de salário). Seria o mesmo que hoje alguém lhe cobrar R$ 46.640,00! Mesmo que eu dispusesse daqueles 7.200, a criação do site nesses termos não era recomendável, uma vez que eu não teria, ao menos não de imediato, um mecanismo que gerasse renda a partir do próprio site, muito menos em tal volume. Enfim, só me restava agradecer a atenção da galera do escritório e arquivar a ideia do site, e foi o que fiz. 

Meu trabalho posterior na internet, seja com sites, seja com blogs, foi quase sempre centrado na minha atuação como jornalista cultural; só recentemente passei a dar destaque a meu trabalho com a fotografia, primeiro em 2014 através dos blogs Som do Norte e As Tias do Marabaixo, e este ano com a criação deste blog que vos fala, que de certo modo retoma a ideia do quase-site de 1999. 

  • À falta de fotos minhas da época disponíveis no momento, ilustrei o post com minha homenagem ao Brique da Redenção, a grande feira popular dos domingos no Bom Fim, meu bairro natal. Destaco, à esquerda, um índio Kaingang vendendo cestos na calçada; e à direita, no leito da rua (que fica bloqueada para carros aos domingos) o artista popular Zé da Folha, que segundo eu soube mais tarde era natural de Bento Gonçalves. Ao fundo, o Colégio Militar com seu tradicional relógio. Para fazer cartuns como este, eu geralmente ia ao local e batia dezenas de fotos (3 a 5 filmes de 36 poses, naqueles tempos pré-foto digital) e depois ia esboçando os elementos que entrariam no desenho. 


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