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05/07/2019

Arquivo 2014: Macapá: Bancos do Formigueiro foram destruídos nesta terça (exclusivo!)



Exatamente às 16h45, uma equipe formada por dois funcionários da  Secretaria Municipal de Manutenção Urbanística (Semur) da Prefeitura Municipal de Macapá concluiu o serviço de que fora encarregada: a remoção dos bancos que ainda existiam no Largo dos Inocentes, popularmente conhecido como Formigueiro, um local histórico na área central de Macapá. A foto acima retrata como o local ficou após a saída da equipe.

Afora eu, não havia mais nenhum profissional de imprensa no local, de modo que podemos afirmar sem erro que esta publicação se trata de um material exclusivo do blog Jornalismo Cultural

Fui alertado do fato via Facebook: perto de 16h, um amigo meu compartilhou um aviso de que os bancos do Formigueiro estavam sendo destruídos naquele exato momento. Em seguida, me dirigi para lá, encontrando os dois funcionários da Semur. Perguntei a eles se sabiam o que se pretende fazer no local e eles me responderam que só tinham orientação para remover os bancos, sem maiores detalhes.

O Formigueiro, junto com a orla do rio Amazonas, se constitui num dos lugares mais antigos de ocupação de Macapá. O nome popular Formigueiro vem das casas que havia no local até os anos 40, todas muito juntas, lembrando um formigueiro. Mas por volta de 1947, a população do local, na maioria constituída de afro-descendentes, foi removida para outros bairros, a exemplo do que já acontecera com os moradores da orla em 1943, quando da instalação do Território Federal do Amapá (removidos da orla, os negros macapaenses fundaram os bairros da Favela, hoje Santa Rita, e do Laguinho).

Atualmente, o Formigueiro tem servido como ponto de encontro da população jovem, da capital, em especial à noite. Um dos pontos preferidos de reunião era justamente onde haviam os bancos destruídos hoje. Há poucas residências no entorno do Largo (que fica atrás da Igreja de São José, antiga catedral, e ocupa o trecho da Mendonça Furtado entre São José e Tiradentes), as principais edificações em redor são um shopping center, alguns comércios, a igreja citada e uma secretaria estadual. A maioria dos quais nem funciona à noite. De toda maneira, não estamos mais em 1947 e o bom senso, ao menos, recomenda que antes de se fazer uma intervenção dessa natureza num espaço público e histórico se proceda antes a uma ampla consulta pública.

Este era o aspecto do Formigueiro à hora que eu cheguei, aproximadamente 16h15 (o que indica que a equipe já estava trabalhando há algum tempo):



A equipe seguiu trabalhando tranquilamente, mesmo após a minha chegada e vendo que tanto eu quanto alguns transeuntes tiravam fotos:




Perto dali, policiais exerciam uma vigilância discreta e que não chegou a interferir de modo algum no período em que permaneci no largo.



Foi aí que, quando um dos funcionários marretava um dos bancos, se aproximou um grupo de estudantes.



Uma delas, chamada Flávia, ficou chocada com o que viu e, indignada, perguntou aos funcionários por que eles faziam aquilo.



Eles explicaram e Flávia resolveu sentar em um dos bancos, enquanto continuava conversando com os dois para tentar entender o sentido de tudo o que acontecia ali.





De todos os presentes no Formigueiro naquele horário, Flávia foi a única que tomou uma atitude de questionamento de toda aquela situação. 




Por fim, vendo que os funcionários seguiam sem alterações as ordens recebidas, Flávia acabou se levantando do banco onde estava. 


Perto das 16h45, os funcionários deram o trabalho por concluído...


... dirigindo-se para a viatura da Semur e deixando o local...




... assim.



  • Desde as 17h30, quando comecei este post e divulguei sua foto de abertura no Facebook, algumas pessoas têm dito que haveria assaltos e outras violações da lei no Formigueiro. Embora eu não tenha presenciado nem assaltos nem outras situações relatadas, penso que violações da lei se resolvem ou mesmo se previnem com policiamento, não vejo como a remoção dos bancos possa influir nisso. 


  • Atualização 6/8, 14h32: ontem, quando a equipe saiu, o banco amarelo onde Flávia se sentara havia permanecido intacto. Hoje, perto de 11h, o referido banco já fôra transferido para o lado de outro idêntico, poucos metros adiante, para o lado da rua Tiradentes. O banco transferido foi fixado no chão de um modo que não consegui identificar (é o da esquerda na foto ao lado; já o da direita, que sempre esteve ali desde que conheço o largo, está cimentado no chão). 

Afora eu, não havia naquele momento ninguém no largo, então se o objetivo da remoção dos bancos era afastar a população de um espaço público, ele foi plenamente atingido. 






  • Atualização 8/8, 15h50: Perto de 13h, estive no largo, constatando que até os bancos amarelos já foram retirados. No lugar destes e dos outros bancos já retirados na terça, apenas círculos de cimento.




A presença de intervenções feitas sobre o cimento ainda fresco indicam que aconteceu hoje mesmo este último ato no sentido de apagar qualquer vestígio de que um dia o largo teve bancos. Ao nome da já citada Flávia, soma-se o de Kelvin como um dos resistentes à descaracterização do local sem consulta alguma à população. 




  • Making-off do post - Publicado no blog Jornalismo Cultural em 5.8.14, com atualizações nos dias seguintes. 


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