Estive em Salvador nos dias que antecederam o centenário de Vinicius de Moraes, que morou na cidade no começo dos anos 1970, período em que foi casado com a atriz baiana Gessy Gesse. Não chegou a ser planejada (a viagem era para ter acontecido em abril) mas não deixou se ser uma feliz coincidência. Afinal, por sugestão de minha repórter Calila das Mercês, em vez de ficar no centro ou na área do Pelourinho, como faz a maioria, fui me hospedar justamente em Itapuã, bairro que o poeta cantou e onde viveu. Fã dele há pelo menos 35 anos (desde que, ainda no pré-primário, me coube decorar e declamar "O pato pateta"), eu sabia que Vinicius havia construído uma casa para viver com Gesse, e me propus a descobrir se a casa ainda existia ou então o que haveria sido feito dela, e também algo no bairro que remetesse à presença de Vinicius.
Não foi difícil obter estas informações: uma simples busca pelos termos "casa Vinicius Moraes Salvador" apontou que, sim, a casa ainda existe, sendo hoje um anexo do Mar Brasil Hotel, que a adquiriu em 2000. E, em frente ao hotel, há a praça Vinicius de Moraes, com uma estátua do poeta. Coloquei o endereço do hotel (R. Flamengo, 44, Farol de Itapuã) no Google Maps e tracei o roteiro para chegar lá a partir de onde eu estava, o começo da av. Dorival Caymmi, na chamada "praça da Sereia" de Itapuã. Pois bem, a praça se situa bem na orla, junto à av. Octávio Mangabeira.
Seguindo em sentido leste, você vai deparar, à sua esquerda, com a Praça Dorival Caymmi (sim, a "Praça Caymmi" que Vinicius cantou em "Tarde em Itapuã"). Mas não vi ninguém vendendo água de coco ali, isso você conseguirá nos quiosques da orla, em frente à praça. Não deixe de visitar bem ali do lado da praça uma igreja histórica, a de Nossa Senhora da Conceição de Itapuã, construída em 1646.
Saindo da praça Caymmi, atravesse a rua, passe pela Colônia de Pesca e siga pela rua Professor Souza Brito (antiga Estrada do Farol de Itapuã). Ela inicia na esquina com a rua Calazans Neto, que homenageia um artista plástico baiano amigo de Vinicius. Várias transversais da Souza Brito têm nomes que remetem às artes, como Rua da Poesia, da Prosa, da Música...
Perto do Farol de Itapuã (que me surpreendeu por ser bem pequeno e relativamente escondido, se comparado ao Farol da Barra), há uma curva protegida por guard-raills (mantenha-se na área protegida!) que leva diretamente à Praça Vinicius de Moraes, inaugurada há exatos 10 anos, por ocasião dos 90 anos de Vinicius. Ali fica uma estátua do poeta em tamanho natural, além de pedras com biografia, poemas e letras de músicas. Tirei fotos ali e me preparei para a etapa que poderia ser a mais difícil - conseguir visitar a casa de Vinicius, anexa ao hotel.
O Mar Brasil Hotel é o único hotel que já vi na vida onde você não tem acesso direto à portaria, há um portão com um interfone que você aciona pedindo para entrar. Acionei, pedi, entrei e falei com um mensageiro que queria conhecer a casa do Vinicius. Ele pediu que eu me dirigisse ao balcão. Para a senhora que me atendeu, já me identifiquei como jornalista e não houve dificuldade alguma. Ela me presenteou com um folder que tem o poema "A Casa", de Vinicius, e o histórico do imóvel, e chamou o mesmo mensageiro com quem eu já falara, que me conduziu até a casa anexa. Pelos corredores, há obras de autores como Calazans Neto e Carybé, além de algumas fotos de Vinicius.
A casa de Vinicius em Itapuã foi erguida em 1974, e é mantida preservada pelo hotel desde que a comprou, há 13 anos. Uma sala logo na entrada funciona como "business center", ou seja, é oferecida aos hóspedes para realização de reuniões e como escritório. Os antigos cômodos da casa hoje são quartos do hotel. Há uma especial atenção para o quarto do casal Vinicius e Gesse, que hoje é a Suíte Vinicius - a diária mais alta do hotel, que oscila de R$ 285,00 na baixa estação (março a junho) e pode chegar a R$ 4.170 no pacote para o Carnaval! Não pude visitar a suíte porque ela estava com hóspedes, mas pelo que diz no prospecto o aposento é mantido com a disposição original dos móveis, destacando-se a famosa banheira de frente para o mar (que Vinicius via ao tomar banho, graças a uma parede espelhada - comenta-se que, embora morasse próximo à praia, não era do feitio do poeta ir até o mar).
O jardim e a piscina (que, segundo o prospecto tem "forma de ameba" mas na qual eu vejo um coração) são originais, bem como o calçamento em torno da piscina. Na parte externa da casa, se encontra também uma réplica da estátua de Vinicius que há na praça.
Não posso deixar de contar um diálogo que 'pesquei' da conversa do mensageiro que me conduzira com um colega seu, que estavam arrumando as mesas da parte externa da casa, certamente para um evento que aconteceria creio que mais tarde, nesse mesmo dia em que lá estive - a quinta, 17 de outubro (digo isto porque retornei no dia seguinte e a disposição das mesas já era outra). Certamente sem imaginar que eu estava prestando atenção, um deles desdenhou de meu interesse por Vinicius ("Maluquice né, velho?"), no que obteve a concordância do outro ("É mesmo, o cara morreu já tem tantos anos..."). Melhor nem comentar! Na mesma linha, estava uma senhora que encontrei varrendo a calçada em frente a um prédio da Souza Brito, a quem perguntei se aquele era o caminho correto para a praça Vinicius de Moraes: "Olha, ali mais pra frente tem sim a estátua dum, mas não sei quem é não!".
Quando saí da casa do Vinicius, a senhora do hotel com quem eu falara antes me convidou para os eventos programados para o sábado, dia do Centenário (agradeci, já que sairia de Salvador em direção a Belém ainda na noite da sexta). Aproveitei para parabenizar o hotel por preservar a memória da presença de Vinicius em Itapuã.
No dia seguinte, retornei à praça e ao hotel acompanhado de um hóspede da mesma pousada onde fiquei, a quem relatei a visita e que ficou curioso em fazer o mesmo. Fomos recebidos por outro funcionário, que nos perguntou se estávamos hospedados ali quando dissemos que queríamos ir na casa do Vinicius. Mas a senhora que me atendera na véspera me reconheceu e liberou o acesso.
Já na praça, deparamos com uma cena curiosa, pra dizer o mínimo: funcionários da prefeitura limpando o local em plena véspera do Centenário (comentei com um funcionário e ele disse que não havia sido possível fazer isto antes por conta das chuvas. De fato, choveu mais de 12 horas na quarta. Mas e antes??). Além da limpeza, também reparei na colocação dos óculos de Vinicius sobre a mesa, eles não estavam lá na quinta. Foi possível tirar fotos, apenas com a recomendação de não se tocar em nada (creio que devido a produtos químicos utilizados na limpeza).
A caminhada entre a Praça Caymmi e a Praça Vinicius leva entre 20 a 30 minutos. Você até pode pegar um ônibus ou um lotação na praça da Sereia e pedir pra descer no Farol de Itapuã, mas a não ser que você não goste ou não possa caminhar esse trecho de menos de dois quilômetros, recomendo que vá andando e conhecendo melhor o bairro. Tanto na quinta, quando fui de tarde, quando na sexta, quando estive lá pela manhã, não fui abordado por ninguém no caminho e não vi nenhuma ocorrência anormal em relação à segurança. Enfim, é uma visita que recomendo - da próxima vez que for a Salvador, não deixe de visitar o Vinicius!
Não foi difícil obter estas informações: uma simples busca pelos termos "casa Vinicius Moraes Salvador" apontou que, sim, a casa ainda existe, sendo hoje um anexo do Mar Brasil Hotel, que a adquiriu em 2000. E, em frente ao hotel, há a praça Vinicius de Moraes, com uma estátua do poeta. Coloquei o endereço do hotel (R. Flamengo, 44, Farol de Itapuã) no Google Maps e tracei o roteiro para chegar lá a partir de onde eu estava, o começo da av. Dorival Caymmi, na chamada "praça da Sereia" de Itapuã. Pois bem, a praça se situa bem na orla, junto à av. Octávio Mangabeira.
Saindo da praça Caymmi, atravesse a rua, passe pela Colônia de Pesca e siga pela rua Professor Souza Brito (antiga Estrada do Farol de Itapuã). Ela inicia na esquina com a rua Calazans Neto, que homenageia um artista plástico baiano amigo de Vinicius. Várias transversais da Souza Brito têm nomes que remetem às artes, como Rua da Poesia, da Prosa, da Música...
Farol de Itapuã, no ângulo de "visão"
da estátua de Vinicius na praça com seu nome
Uma pena a falta de
conservação das placas...
O Blogger só tá aceitando
estas duas imagens assim, "deitadas..."
Ops!
O Mar Brasil Hotel é o único hotel que já vi na vida onde você não tem acesso direto à portaria, há um portão com um interfone que você aciona pedindo para entrar. Acionei, pedi, entrei e falei com um mensageiro que queria conhecer a casa do Vinicius. Ele pediu que eu me dirigisse ao balcão. Para a senhora que me atendeu, já me identifiquei como jornalista e não houve dificuldade alguma. Ela me presenteou com um folder que tem o poema "A Casa", de Vinicius, e o histórico do imóvel, e chamou o mesmo mensageiro com quem eu já falara, que me conduziu até a casa anexa. Pelos corredores, há obras de autores como Calazans Neto e Carybé, além de algumas fotos de Vinicius.
Este foi o convite para a inauguração
da casa, em 1974
Mosaico de Udo Knoff, original da casa
Não posso deixar de contar um diálogo que 'pesquei' da conversa do mensageiro que me conduzira com um colega seu, que estavam arrumando as mesas da parte externa da casa, certamente para um evento que aconteceria creio que mais tarde, nesse mesmo dia em que lá estive - a quinta, 17 de outubro (digo isto porque retornei no dia seguinte e a disposição das mesas já era outra). Certamente sem imaginar que eu estava prestando atenção, um deles desdenhou de meu interesse por Vinicius ("Maluquice né, velho?"), no que obteve a concordância do outro ("É mesmo, o cara morreu já tem tantos anos..."). Melhor nem comentar! Na mesma linha, estava uma senhora que encontrei varrendo a calçada em frente a um prédio da Souza Brito, a quem perguntei se aquele era o caminho correto para a praça Vinicius de Moraes: "Olha, ali mais pra frente tem sim a estátua dum, mas não sei quem é não!".
Quando saí da casa do Vinicius, a senhora do hotel com quem eu falara antes me convidou para os eventos programados para o sábado, dia do Centenário (agradeci, já que sairia de Salvador em direção a Belém ainda na noite da sexta). Aproveitei para parabenizar o hotel por preservar a memória da presença de Vinicius em Itapuã.
Já na praça, deparamos com uma cena curiosa, pra dizer o mínimo: funcionários da prefeitura limpando o local em plena véspera do Centenário (comentei com um funcionário e ele disse que não havia sido possível fazer isto antes por conta das chuvas. De fato, choveu mais de 12 horas na quarta. Mas e antes??). Além da limpeza, também reparei na colocação dos óculos de Vinicius sobre a mesa, eles não estavam lá na quinta. Foi possível tirar fotos, apenas com a recomendação de não se tocar em nada (creio que devido a produtos químicos utilizados na limpeza).
A caminhada entre a Praça Caymmi e a Praça Vinicius leva entre 20 a 30 minutos. Você até pode pegar um ônibus ou um lotação na praça da Sereia e pedir pra descer no Farol de Itapuã, mas a não ser que você não goste ou não possa caminhar esse trecho de menos de dois quilômetros, recomendo que vá andando e conhecendo melhor o bairro. Tanto na quinta, quando fui de tarde, quando na sexta, quando estive lá pela manhã, não fui abordado por ninguém no caminho e não vi nenhuma ocorrência anormal em relação à segurança. Enfim, é uma visita que recomendo - da próxima vez que for a Salvador, não deixe de visitar o Vinicius!
- Making-off do post - Publicado no blog Jornalismo Cultural em 19.10.13, dia do Centenário de nascimento de Vinicius de Moraes. Tinha o título original de Especial #Vinicius100Anos: Visitando Vinicius na Bahia, já que fazia parte (sendo, aliás, o ponto final e mesmo o auge) de uma série de posts iniciados no dia 17, quando eu já me encontrava de volta a Belém e reunindo tudo o que eu já escrevera sobre o poeta.
- No post original, havia duas fotos em que eu aparecia, tiradas pelo hóspede da pousada em que eu estava, citado no antepenúltimo parágrafo.
- Na nossa fan page, você encontra o álbum "Visitando a Casa do Vinicius", com 71 fotos.
- Algumas fotos deste post foram incluídas no Especial Dorival Caymmi 100 anos, publicado no blog Jornalismo Cultural em 30.4.14 e também no post deste blog Belezas Culturais: Estátuas de Dorival Caymmi, de 3.10.16.
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