- Quinta, 13/3: Uma tarde com Pedro Jr.
A tarde desta quinta foi "loca de especial", para usar um dito popular gaúcho. Recebi em Belém meu amigo Pedro Júnior da Fontoura, poeta e declamador, que estava a caminho de Macapá, onde participou, na noite mesmo de quinta, do evento Virada Poética, que antecipava a comemoração do Dia Nacional da Poesia, que é hoje. O evento, além de reunir grupos de poetas do Amapá, contou com as presenças de Pedro e do roraimense Eliakin Rufino.
A amizade com Pedro é das mais longas que conservo - estudamos juntos na Escola Estadual Padre Landell de Moura, em Bento Gonçalves (RS), na segunda metade dos anos 1980. Ele já então envolvido com a tradição gaúcha, se apresentando e sendo premiado em festivais e rodeios. Eu, escrevendo o jornal da sala de aula. Depois fui morar em Porto Alegre e perdemos contato direto, eu sabia mais a respeito dele através de minha mãe, que falava do trabalho de Pedro à frente da Biblioteca Pública Castro Alves (que eu frequentava quando criança) e também da Feira do Livro de Bento Gonçalves (da qual participei das primeiras edições, ainda nos anos 80). Fomos nos reencontrar apenas em dezembro de 2012, em Macapá, quando ambos participamos da programação do Festival Quebramar - ele recitando poemas gaúchos acompanhado por um grupo de marabaixo, eu ministrando meu Workshop de Jornalismo Cultural.
O vôo de Pedro para Belém, vindo de Porto Alegre, com escala em Curitiba (o que dá mais de sete horas direto a bordo da mesma aeronave, viagem bem puxada), atrasou pra sair de São Paulo, o que fez com que ele chegasse na capital paraense perto das 15h, uma hora depois do previsto. Como sua ida para Macapá seria apenas às 19h, calculamos que daria pra mostrar pra ele um pouco do Centro de Belém.
Viemos pro Centro, almoçamos e mostrei a ele alguns dos principais pontos turísticos, como a Praça da República, o Theatro da Paz, o Bar do Parque, o Cinema Olympia e o Teatro Experimental Waldemar Henrique (enquanto me dava conta de que, apesar de existirem Paratur e Belemtur, desconheço a existência de postos de informação turística em Belém!). Foi aí que decidi convidar Pedro para conhecer uma lancheria na galeria da Assembleia Paraense que mistura diferentes frutas em seus sucos, obtendo sabores inusitados. Tomamos um de tangerina, taperebá e maracujá, e depois um de graviola com ameixa. E, para felicidade nossa, enquanto estávamos ali, entrou no local o violonista Salomão Habib com três indígenas da etnia Kayapó.
Apresentei Pedro a Salomão, e eles logo se enturmaram. Pedro contou que quem toca violão habitualmente em seus CDs é o argentino Lúcio Yanel. "O professor do Yamandu (Costa)!", festejou Salomão. Em homenagem aos indígenas presentes, Pedro declamou um trecho de poema do escritor Alcy Cheuiche, sobre os Sete Povos das Missões, e logo o papo versou sobre o líder dos Guarani, Sepé Tiaraju. O rápido encontro encerrou com uma breve visita ao Teatro Waldemar Henrique, do qual Salomão é diretor, a troca de livos e CDs, e o convite para que Pedro se apresente em Belém neste sábado (sim, amanhã, dia 15). Se for confirmado, iremos noticiar. Dali já pegamos um táxi para o aeroporto, para que Pedro chegasse a tempo de pegar o voo para Macapá.
- Sexta, 14/3: Dia Nacional da Poesia
Comecei minha sexta lançando, através do blog da Poeta Amadio, o primeiro CD desta artista cujo trabalho eu produzo, intitulado Bem que Podia. O disco reúne poemas dela e de seus mestres Binho e Eliakin Rufino; inclui também três poemas musicados. Você pode ouvi-lo clicando aqui. A repercussão tem sido a melhor possível, principalmente através do Facebook, já que a divulgação junto à imprensa começa mesmo na semana que vem.
Já no fim da tarde, acompanhei no SESC Boulevard a 2ª Festa Paraense da Poesia, uma parceria entre entre o selo Versivox e a Nós Outros Companhia Teatral. O evento iniciou com uma homenagem da Nós Outros aos 450 anos de nascimento do dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare. Seguiu-se a chamada "Rota Intercâmbio", um bate-papo do ator Hudson Andrade com a poeta Rita Melém, que contou um pouco de sua trajetória e leu alguns de seus poemas, todos invariavelmente bem curtos. Ela chegou a comentar que notava que, ao final de cada poema, o público ficava esperando alguma continuação... Algumas pessoas da plateia também participaram, entre elas a sobrinha de Rita, Thaís Frazão. Outra participação muito especial durante a conversa com Rita foi dos rappers do grupo Arsenal de Rimas, que chegaram a improvisar a partir de um poema de Rita lido por Hudson.
O final da Festa foi dedicado à comemoração dos 145 anos da publicação do poema O Navio Negreiro, de Castro Alves (o responsável, em última instância, por hoje ser o Dia Nacional da Poesia, já que ele nasceu em 14 de março de 1847). O escritor Carlos Correia Santos comandou este momento, intitulado "O Samba Veio no Navio Negreiro", no qual intercalou músicas que compôs falando das questões sociais e raciais - do preconceito, enfim - que o negro enfrenta ainda hoje na sociedade brasileira, passados 126 anos da Abolição. As músicas foram interpretadas pelo próprio Carlos (que recentemente foi aluno de uma oficina de canto ministrada por Dayse Addario), acompanhado pelo violonista Renato Rosas (sempre uma opção de qualidade) e pela backing vocal Ani Barbosa (irmã de Carlos). A canção que dá título ao espetáculo tem mensagem muito contundente e pinta de futuro clássico da nossa música. Entre uma canção e outra, Carlos declamou trechos de "O Navio Negreiro". Fosse só isso, já estava ótimo, mas houve mais: a apresentação das canções e do poema era alternada com a encenação de uma cena teatral escrita e dirigida por Hudson Andrade, com os atores Alexandre da Silva e Karina Lima, narrando o drama de um escritor negro, que às vésperas de lançar seu primeiro livro (e sonhar, em função disso, com o reconhecimento e a saída da miséria), é confundido com um ladrão e morto.
Ani Barbosa, Carlos Correia Santos e Renato Rosas
(Parêntese: assim como posso me orgulhar de uma amizade de longa data com Pedro Jr., posso quase dizer o mesmo em relação a Carlos Correia Santos. Ele é meu amigo de Belém mais antigo, pois nos conhecemos em agosto de 2005, quando vim pela primeira vez ao Pará para ministrar o módulo de Jornalismo Cultural do MBA de Gerência em Jornalismo da FGV. Depois, em 2009, tive a honra de, por alguns meses, ser seu assessor de imprensa.)
Terminado o evento, ainda consegui ver o finalzinho do show de Camila Honda em homenagem a Nara Leão, que acontecia também no SESC no mesmo horário. Vi Camila cantar "A Banda", de Chico Buarque, com a participação especial de Arthur Espíndola.
Quando saímos todos do SESC, chuviscava. Vi uma garota falar com uns amigos para seguirem para seu destino mesmo assim, alegando: "Ninguém é de tapioca. Bora lá!"
- Making-off do post - Publicado originalmente no blog Jornalismo Cultural em 14.3.14.
- Editado em 28.10.21 para corrigir o termo equivocado "índios" pelo correto, "indígenas".
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