Na quinta, 27 de outubro, o fotógrafo Sebastião Salgado, ao receber no Rio de Janeiro o Prêmio Personalidade França-Brasil, foi enfático ao prever o fim da nossa profissão:
- A fotografia está acabando porque o que você vê no Instagram ou no telefone não é fotografia. Fotografia é um objeto materializado que você imprime, você tem, você olha.
No trecho acima, reproduzi a fala de Salgado neste vídeo postado pela EFE Brasil no YouTube, e que aparece reproduzido, com algumas adaptações, na reportagem de Carlos A. Moreno para o site Terra, ambos postados no dia 28. Tantos estes conteúdos como a matéria creditada à AFP e publicada no mesmo dia pela Ilustrada/Folha de S. Paulo trazem no título a palavra "extinção", que Salgado não chegou a usar, mas que é coerente, sim, com suas previsões. Vamos a outro trecho da sua fala, reproduzido pelo Terra:
- A fotografia é o que os seus pais fizeram quando você era criança: revelaram um filme que fizeram de você na esquina; fizeram um álbum e guardaram essas fotos. A fotografia é algo intrínseco, que você toca. Hoje, o que existe é imagem. A imagem não é fotografia. Mudamos o conceito dela. Passamos para outra coisa. E estamos em processo de eliminação da fotografia. Não acredito que a fotografia vá viver mais do que 20 ou 30 anos. Vamos passar para outra coisa. Fotografia era uma memória, uma referência. Hoje, a imagem é uma linguagem. Instagram é outra coisa. O que eu faço não é isso. O que eu faço é fotografia. Isso é imagem, o que é outro conceito.
A meu ver, estas declarações de Sebastião Salgado vão pelo mesmo caminho daqueles que proclamam a superioridade sonora dos discos de vinil sobre os CDs e arquivos MP3 ou dos que questionam se um e-book é um livro (basta ver o texto assinado por Joseba Elola publicado no dia 9 de outubro no site da edição brasileira do jornal espanhol El Pais e cujo título é uma ode ao livro impresso: Quero ler em papel). É a confusão entre suporte e produto - a foto não é sua impressão, a música não é o LP, um livro não é sua versão impressa-e-encadernada.
No cinema, o processo já há bastante tempo é todo digital, até que chega a hora de passar o filme pronto para película a fim de exibir no circuito comercial - como já se fazia em 1891! Lembro até que, num debate sobre restauração de filmes antigos, vi alguém reclamar que o que se faz comumente é passar o filme da película para um suporte digital e a partir daí se trabalhar apenas com o filme já digitalizado, deixando de lado a película. Mas o que é mais importante, a criação artística, ou o suporte na qual ela esteja eventualmente?
No trecho acima, reproduzi a fala de Salgado neste vídeo postado pela EFE Brasil no YouTube, e que aparece reproduzido, com algumas adaptações, na reportagem de Carlos A. Moreno para o site Terra, ambos postados no dia 28. Tantos estes conteúdos como a matéria creditada à AFP e publicada no mesmo dia pela Ilustrada/Folha de S. Paulo trazem no título a palavra "extinção", que Salgado não chegou a usar, mas que é coerente, sim, com suas previsões. Vamos a outro trecho da sua fala, reproduzido pelo Terra:
- A fotografia é o que os seus pais fizeram quando você era criança: revelaram um filme que fizeram de você na esquina; fizeram um álbum e guardaram essas fotos. A fotografia é algo intrínseco, que você toca. Hoje, o que existe é imagem. A imagem não é fotografia. Mudamos o conceito dela. Passamos para outra coisa. E estamos em processo de eliminação da fotografia. Não acredito que a fotografia vá viver mais do que 20 ou 30 anos. Vamos passar para outra coisa. Fotografia era uma memória, uma referência. Hoje, a imagem é uma linguagem. Instagram é outra coisa. O que eu faço não é isso. O que eu faço é fotografia. Isso é imagem, o que é outro conceito.
A meu ver, estas declarações de Sebastião Salgado vão pelo mesmo caminho daqueles que proclamam a superioridade sonora dos discos de vinil sobre os CDs e arquivos MP3 ou dos que questionam se um e-book é um livro (basta ver o texto assinado por Joseba Elola publicado no dia 9 de outubro no site da edição brasileira do jornal espanhol El Pais e cujo título é uma ode ao livro impresso: Quero ler em papel). É a confusão entre suporte e produto - a foto não é sua impressão, a música não é o LP, um livro não é sua versão impressa-e-encadernada.
No cinema, o processo já há bastante tempo é todo digital, até que chega a hora de passar o filme pronto para película a fim de exibir no circuito comercial - como já se fazia em 1891! Lembro até que, num debate sobre restauração de filmes antigos, vi alguém reclamar que o que se faz comumente é passar o filme da película para um suporte digital e a partir daí se trabalhar apenas com o filme já digitalizado, deixando de lado a película. Mas o que é mais importante, a criação artística, ou o suporte na qual ela esteja eventualmente?
- (Um parêntese: ao contrário do que a fala de Sebastião Salgado dá a entender, a fotografia não nasce tendo como desdobramento obrigatório a impressão em papel. A primeira fotografia produzida pelo francês Joseph Niépce, em 1826, foi fixada numa placa de estanho. Treze anos depois, o britânico William Talbot passou a usar papel para as funções hoje desempenhadas pelo negativo, ou seja, captar a imagem, e pelo papel fotográfico, onde essa imagem é reproduzida. Já em 1851, o inglês Frederick Archer cria o negativo de chapa de vidro, facilitando a impressão em papel. Vinte anos depois, o físico Richard Maddox, também inglês, inventou o negativo com emulsão que passou a ser o padrão da indústria, popularizado a partir de 1886 pelo americano George Eastman através da Kodak. Ao longo desses 60 anos, portanto, a impressão em papel convivia com a fixação em outros suportes, como chapas de vidro e de metal.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário