09/02/2017

O dilema de publicar ou não uma foto

Em 17 de novembro de 2015, fiz um passeio turístico pelo Rio Negro, partindo de Manaus, passando pelo Encontro das Águas e aportando em uma ilha onde há uma aldeia de índios Tukano Dessana - na foto que ilustra esse post, vemos uma indígena desse povo. Esta foto até hoje se encontrava inédita, bem como a maior parte das imagens que fiz nesse passeio.

Talvez você se espante ao saber que tenho fotos feitas há quase 15 meses que ainda estão inéditas. Tenho sim, assim como fotos mais recentes e até mais antigas. E as razões são várias.

Primeiramente, quando falo em "uma foto", é mais por força de expressão. Geralmente quando se faz um passeio como o mencionado, o normal é fazer centenas de fotos - um pouco porque nunca se sabe quando poderemos voltar lá novamente, outro tanto porque não temos como saber se as fotos estão realmente saindo boas (claro que ao olhar pelo visor da própria câmera todas estariam show de bola - risos). Aí, findo o passeio e descarregado o cartão de memória no notebook e/ou num HD externo, fazemos uma edição, escolhendo as melhores e (quase sempre) apagando as que não ficaram boas. Passado esse pente fino, é comum então se escolher alguma(s) foto(s) desse lote para publicar no blog e redes sociais. 

Dois motivos, em especial, contribuem para que sejamos tão seletivos. Já fui de ir a um show, fazer 500 fotos, e publicar no Facebook todas as 300 e poucas que ficaram boas. Hoje penso que isso é além da medida, principalmente porque boa parte das imagens são muito parecidas entre si. Quantas pessoas irão de fato parar para olhar tanta foto? Uma seleção de até 10 a 15 imagens, cobrindo os principais momentos, pode traduzir tão bem o evento quanto o conjunto todo - com a vantagem de ser bem mais prático para conferir. Então, beleza, evitar a redundância é o primeiro motivo. 

O outro motivo é a necessidade que os fotógrafos têm (ao menos os que, como eu, têm o costume de se inscrever regularmente em editais) de preservar o ineditismo de fotos que tenham o potencial de ganhar prêmios. É bastante comum que regulamentos de premiações, nacionais ou estrangeiras, exijam que as imagens a serem submetidas a sua comissão julgadora nunca tenham sido publicadas antes - o que vai desde nunca ter sido incluída num livro até chegar a nunca ter sido postada nem mesmo em redes sociais. Parece uma exigência meio chata, e talvez até seja (risos) mas dá pra entender quando uma instituição oferece premiações que podem chegar a dezenas de milhares de reais (ou dólares, ou euros); eles querem que o salão que estão organizando a partir das fotos selecionadas pelo júri constitua um conjunto impactante (e nada como o ineditismo para garantir impacto) e não apenas um apanhado do que todo mundo já viu no Instagram. Faz sentido. Pense bem, até mesmo o júri pode se influenciar se já conhecer as imagens. 

Tudo isso acaba gerando o dilema que menciono no título do artigo. Por um lado, é natural que eu queira manter algumas fotos supimpas inéditas almejando abiscoitar alguma premiação destas. Por outro lado, ao criar este blog e, mais recentemente, uma conta no Instagram, eu tacitamente assumi um compromisso com quem acessa esses espaços de postar sempre material interessante e de qualidade (embora não necessariamente sempre inédito). Afinal, nem só de prêmios vive o fotógrafo, mas de todo o olhar atento que é voltado para o que ele produz. 

:) 


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