Em 13 de outubro do ano passado, publiquei aqui no blog um artigo com o título A permanência da foto em papel, comentando a questão da durabilidade das fotos impressas (que tende a ser grande) versus o péssimo hábito que a humanidade alimentou por décadas de guardá-las em álbuns cheios de cola (o que tem se revelado recentemente um grande erro). Duas semanas depois, voltei ao assunto, dessa feita em relação aos arquivos digitais, no item "A permanência das fotos digitais", dentro do artigo Suitando em dobro. E por que estou falando disso novamente, passados cinco meses?
Simplesmente porque, em artigo publicado ontem no site BBC News, o americano Vint Cerf, um dos pais da internet, declarou ao correspondente da BBC Pallab Ghosh que teme uma Idade das Trevas Digital. Com isto, Cerf queria traduzir seu temor de que os softwares e hardwares que usamos hoje progressivamente deixem de funcionar e/ou conversar entre si, tornando portanto indisponíveis nossos mais importantes documentos e fotos. Leia o artigo de Ghosh (em inglês) no site da BBC - ou um resumo em português, postado também ontem por Lília Aguilhar no blog Link, do Estadão.
Cerf não chega a sugerir, no texto publicado pela BBC, que as pessoas imprimam suas fotos, esta sugestão vem no texto do Link, tanto no título ("Segundo o 'pai da internet'; é melhor você começar a imprimir suas fotos favoritas") quanto no encerramento da matéria:
A criação de um museu digital onde seria possível acessar a qualquer tempo as especificações de cada software e hardware já criados e os que venham a surgir, para que sempre seja possível abrir e ler qualquer arquivo existente, qualquer que seja seu formato e em que aparelho esteja. Lindo, né? Nossa, maravilhoso!
Porém devo dizer que tal projeto já chega com um certo atraso. Há algum tempo, por exemplo, não consegui abrir arquivos .mht que criei por volta de 2003 ou '04. O .mht era um arquivo só existente no sistema operacional Windows, que tinha o objetivo de salvar todos os elementos de uma página HMTL em um arquivo só - se salvasse em .htm, você não teria incluídas as fotos da página, por exemplo. Encontrei esses arquivos num antigo CD-R uns dez anos depois de os criar e já não consegui lê-los com a versão então existente do Windows (talvez a 8 ou 8.1)... porque a empresa "descontinuou" o suporte ao formato que ela mesma inventara!
O que mais me preocupa na solução proposta por Cerf é a localização que ele sugere para o tal museu digital - a nuvem. Ora, eu imaginava que, mais que qualquer um de nós, um dos pais da internet tivesse consciência de que dizer "arquivos na nuvem" é apenas uma forma de expressão. Se você não salva seus arquivos localmente (em seu HD, num CD, DVD, pen drive que seja) e confia apenas em um serviço "na nuvem", saiba que seus arquivos estarão em algum mainframe físico em algum lugar do mundo - porque não existe outra maneira de isso ser feito.
Quando você posta uma foto no Facebook ou no Instagram, uma cópia dela é armazenada nos servidores dessas empresas sabe-se lá onde para que você ou quem quer que você permita possam olhá-la a hora que quiserem. Ou às vezes gente que você não permitiu pode ver também - como aconteceu em agosto de 2014, quando o hacker Ryan Collins violou o esquema de segurança do iCloud, da Apple, e vazou centenas de fotos de celebridades como Jennifer Lawrence, Scarlett Johansson e Selena Gomez. Seis meses antes, a Apple fôra alertada pelo especialista em segurança Ibrahim Balic do perigo de algo assim acontecer e minimizou o risco, não tomando providência alguma. Foi então relativamente fácil para Collins, usando técnicas de phising, obter os dados de que necessitava para invadir as contas. Levado a julgamento em outubro do ano passado, foi condenado a 18 meses de prisão.
Bueno, e qual a conclusão disso tudo?
Cerf não chega a sugerir, no texto publicado pela BBC, que as pessoas imprimam suas fotos, esta sugestão vem no texto do Link, tanto no título ("Segundo o 'pai da internet'; é melhor você começar a imprimir suas fotos favoritas") quanto no encerramento da matéria:
Enquanto essa questão não é resolvida, pode ser melhor você começar a imprimir suas fotos e arquivos mais importantes.Já a BBC destaca a questão do possível apagão digital previsto por Cerf, que chegou a dizer a Ghosh:
"O que pode acontecer com o tempo é que, mesmo que acumulemos vastos arquivos de conteúdo digital, não saberemos do que se trata".Isto, segundo Cerf, poderia fazer com que no futuro não seja possível acessar nenhum registro do século 21, o que caracterizaria a tal Idade das Trevas Digital. E qual a solução que o cientista propõe?
A criação de um museu digital onde seria possível acessar a qualquer tempo as especificações de cada software e hardware já criados e os que venham a surgir, para que sempre seja possível abrir e ler qualquer arquivo existente, qualquer que seja seu formato e em que aparelho esteja. Lindo, né? Nossa, maravilhoso!
Porém devo dizer que tal projeto já chega com um certo atraso. Há algum tempo, por exemplo, não consegui abrir arquivos .mht que criei por volta de 2003 ou '04. O .mht era um arquivo só existente no sistema operacional Windows, que tinha o objetivo de salvar todos os elementos de uma página HMTL em um arquivo só - se salvasse em .htm, você não teria incluídas as fotos da página, por exemplo. Encontrei esses arquivos num antigo CD-R uns dez anos depois de os criar e já não consegui lê-los com a versão então existente do Windows (talvez a 8 ou 8.1)... porque a empresa "descontinuou" o suporte ao formato que ela mesma inventara!
O que mais me preocupa na solução proposta por Cerf é a localização que ele sugere para o tal museu digital - a nuvem. Ora, eu imaginava que, mais que qualquer um de nós, um dos pais da internet tivesse consciência de que dizer "arquivos na nuvem" é apenas uma forma de expressão. Se você não salva seus arquivos localmente (em seu HD, num CD, DVD, pen drive que seja) e confia apenas em um serviço "na nuvem", saiba que seus arquivos estarão em algum mainframe físico em algum lugar do mundo - porque não existe outra maneira de isso ser feito.
Quando você posta uma foto no Facebook ou no Instagram, uma cópia dela é armazenada nos servidores dessas empresas sabe-se lá onde para que você ou quem quer que você permita possam olhá-la a hora que quiserem. Ou às vezes gente que você não permitiu pode ver também - como aconteceu em agosto de 2014, quando o hacker Ryan Collins violou o esquema de segurança do iCloud, da Apple, e vazou centenas de fotos de celebridades como Jennifer Lawrence, Scarlett Johansson e Selena Gomez. Seis meses antes, a Apple fôra alertada pelo especialista em segurança Ibrahim Balic do perigo de algo assim acontecer e minimizou o risco, não tomando providência alguma. Foi então relativamente fácil para Collins, usando técnicas de phising, obter os dados de que necessitava para invadir as contas. Levado a julgamento em outubro do ano passado, foi condenado a 18 meses de prisão.
Bueno, e qual a conclusão disso tudo?
- Eu pessoalmente acho bastante improvável um quadro tão tenebroso como o que Vint Cerf pinta, de uma Idade das Trevas Digital. Para ela acontecer da forma como ele narra, seria necessário que todos os sistemas de software e hardware parassem de funcionar simultaneamente, ou em intervalos muito curtos. Se por um lado é fato que programas e aparelhos não tão antigos assim já estão fora do nosso alcance, por outro lado há muitas empresas investindo na escalabilidade desse ferramental já existente.
- Imprimir fotos e arquivos seria uma solução? Em parte. Além, claro, de um possível aumento absurdo no consumo de papel (e a correspondente morte de incontáveis árvores, gerando efeitos ambientais imprevisíveis), é preciso levar em conta de que a impressão funciona bem para fotos e textos, e não tão bem para outros tipos de arquivos. Por via das dúvidas, talvez seja interessante fazer a chamada redundância de arquivos (ou seja, salvar os mais importantes em todas as mídias possíveis). É o que venho fazendo já há algum tempo. Na maioria das vezes vem dando certo.
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