Já falei aqui (em "Afinidade, maestria e demanda") que cabe a nós buscar algo que gostemos de fazer, e cuja execução dominemos, e que se possível nos ajude a viver (no sentido financeiro). Falei também (em "O que te move?") que não pauto minhas ações pela busca de audiência, mas sim por buscar destacar o que, a meu ver, merece tal destaque. Volto a refletir publicamente sobre estes temas a propósito de decisões que tomei a partir do último trimestre de 2019.
Tais decisões se amparavam na frase com a qual encerrei meu "Balanço de 2018": tudo o que procurei fazer ao longo do ano [foi] (...) testar novas opções sempre, apostar no que gera resultado, e descartar o que não progride. Muito bem; mas como avaliar que resultados são esperados para se manter a aposta, e como decidir que algo não progrediu e que o melhor é ser descartado? É possível medir isto objetivamente?
Páginas 12 e 13 de meu livro
"Rapidola (um aperitivo)"
Não é difícil concluir que a resposta mais adequada é o famoso "depende". Ou seja, não há como determinar, a priori, uma medida que sirva para tudo. Vamos pensar em uma iniciativa que descartei no final de 2019: a aplicação de fotos em produtos (camisetas, cartões postais e ímãs de geladeira). Manter esta linha de produção exigia uma grande estrutura - desde encontrar onde fabricar, passando por escolher onde vender, além de anunciar sempre. A falta de vendas matou o negócio.
Na mesma época, lancei um projeto de divulgação de poesia, intitulado Rapidola. A ideia é disseminar poemas curtos (completos) ou longos (em trechos) pelos mais diversos meios: vídeos, textos, áudios e fotos. De início, pensei em apenas difundir textos clássicos já em domínio público, porém logo resolvi, pela primeira vez na vida, colocar em evidência minha própria produção poética (iniciada em 1987, pelo menos, e até agora escassamente publicada).
Em dois meses, o Rapidola já gerou um e-book,virou podcast no Spotify e já teve tantos outros desdobramentos que foi preciso eu criar um guia para ele em meu site. Esta movimentação implica bem menos gastos do que os produtos com fotos. E posso dizer que a satisfação gerada por colocar em evidência clássicos da literatura brasileira e, ao mesmo tempo, mostrar uma faceta desconhecida da minha obra é minha atual medida de sucesso. Afinal, como disse Oswald de Andrade (Manifesto Antropófago, 1928): "A alegria é a prova dos nove."
* Publicado originalmente no Digestivo Cultural
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