07/06/2019

Arquivo 2013: Elis Regina: quem vê estátua não vê polêmica

Porto Alegre - Quem vê hoje a estátua de Elis Regina junto à Usina do Gasômetro, no centro da capital, não imagina a polêmica que envolveu a instalação do monumento. Abordei o tema em duas notas publicadas no Mistura e Manda do site Brasileirinho.

A primeira saiu no Mistura nº131, de 6 de março de 2006:

"Monumento a Elis Regina

Recebemos na segunda, 6, release da Câmara Municipal de Porto Alegre, dando conta de foi aprovada por unanimidade projeto da vereadora Clênia Maranhão para a criação de um monumento em homenagem à cantora Elis Regina. De acordo com o texto assinado pela jornalista Rejane Silva, "Será uma escultura de Elis, como se estivesse cantando, integrada a um fundo feito em concreto e com o seu nome em alto relevo". O local será ainda definido pela Prefeitura.

A homenagem com certeza é mais do que merecida, afinal é vergonhoso constatar o pouco que existe em Porto Alegre lembrando sua ilustre filha, a maior cantora do Brasil: além do Acervo Elis Regina, na Casa de Cultura Mário Quintana (CCMQ), há apenas o nome de dois espaços em centros culturais (a própria CCMQ e Usina do Gasômetro) e uma placa na Vila do IAPI, seu segundo e último endereço porto-alegrense.

Agora, o que me causa espanto é um dos itens do projeto ora aprovado: "A obra será doada pela iniciativa privada, por recursos de captação com base na Lei de Incentivo à Cultura (LIC)". Não sei se deveria me espantar, afinal, de uns tempos pra cá é assim que as coisas têm funcionado na área cultural no Brasil. Mas não consigo achar natural o ente público criar coisas que só vão existir se pagas por entidades privadas. Se não houver interesse publicitário de empresas colocarem sua marca junto ao monumento, Elis seguirá sem homenagem na cidade onde nasceu. Triste."

Fotos: Fabio Gomes - 10.01.13


O projeto acabou encontrando uma empresa interessada, como vamos ver na segunda nota, saída no Mistura nº 180, de 16 de março de 2008:


"Onde vai ficar a estátua de Elis Regina?

Uma estátua em homenagem a Elis Regina está pronta desde a metade de 2006, mas não foi inaugurada até agora por falta de acordo quanto ao local onde ela deva ficar. A questão foi debatida numa reunião no Salão Nobre da Presidência da Câmara Municipal de Porto Alegre, na tarde da quarta, 12.

De um lado, a Companhia Zaffari, que doa o monumento à cidade, quer que ele seja instalado junto à Usina do Gasômetro, no Centro. De outro, moradores do bairro do IAPI, zona Norte da Capital, onde a cantora morou dos 7 aos 18 anos, lembram que já houve uma votação popular que, por maioria absoluta, decidiu pela instalação no IAPI.

- Qual a identificação de Elis com a Usina? - questiona Marisa Ramos, amiga de infância de Elis. Marisa mantém contato com a mãe de Elis, dona Ercy Carvalho Costa, que mora em São Paulo, e diz que dona Ercy também quer a estátua no IAPI.

O argumento apresentado pela Cia. Zaffari para que se prefira a Usina não resiste a uma análise mais detida. O publicitário Luiz Coronel, que representou a empresa, alegou o temor do vandalismo; a secretária-adjunta municipal da Secretaria Municipal da Cultura (SMC), Ana Fagundes, acrescentou que a opção primeira do prefeito José Fogaça era mesmo pelo IAPI, mas observou que "há mais de 200 monumentos e bustos necessitando de restauração devido ao vandalismo". Aos antigos vizinhos da maior cantora do país, ofereceu-se a possibilidade de instalar no local um busto de Elis, obra em bronze do escultor russo Iuri Petrov.

Enfim, o tema segue em discussão; a Associação dos Moradores da Vila dos Industriários (Amovi) deverá promover um debate nos próximos dias para examinar a questão.

Modestamente, quero contribuir para o debate com as seguintes observações:

1 - O vandalismo a monumentos não começou agora; já existia igualmente em 2006, e não pareceu então ser impecilho para que se propusesse a construção do monumento.

2 - Quantos dos "200 monumentos e bustos necessitando de restauração devido ao vandalismo" estavam no IAPI? Até onde sei, a maioria dos monumentos depredados em Porto Alegre localiza-se na área central.

3 - Se não havia intenção de cumprir o decidido na votação que definiu pela instalação no IAPI (ou, por outra, se o local já estava decidido de saída), por que se colocou a questão em votação?

4 - O que leva o Zaffari e a SMC a acreditar que a estátua de Elis no IAPI poderia ser depredada, e o busto feito por Petrov não?????"

** Resumo da ópera: a estátua ficou mesmo na Usina, e desconheço se o busto oferecido ao IAPI foi mesmo instalado. Ah, sim, obviamente todas as perguntas que fiz ficaram sem respostas...

***

  • Making-off do texto - Creio que o artigo em si seja bastante autoe-explicativo (risos). Publicado no blog Jornalismo Cultural em 17.1.13, durante o mês que passei em Porto Alegre -  mesma ocasião em que fiz as fotos do post, com celular. As perguntas do final seguem sem resposta. 

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