O ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, falecido na segunda, 21, será sempre lembrado como o líder da Campanha da Legalidade (que em 1961 garantiu a posse de João Goulart como presidente) e como um grande incentivador da educação. Ele também ficará na história do carnaval carioca, como o responsável pela construção do Sambódromo.
De acordo com Sérgio Cabral, em seu livro As Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Lumiar, 1996), a idéia do Sambódromo surgiu em 1983, para solucionar um impasse que vinha se arrastando, com a queixa da sociedade em relação ao monta-desmonta das arquibancadas, que deixava a Marquês de Sapucaí livre para o trânsito apenas 4 meses por ano. Após cogitações de realizar o desfile na Av. Presidente Vargas ou no Maracanã (!!!), Brizola anunciou em 11 de setembro que o desfile seria mesmo na Sapucaí, após a construção no local da Passarela do Samba - nome que em seguida o povo esqueceu, para consagrar o espaço como Sambódromo. As obras, supervisionadas pelo filho do governador, João Otávio Brizola, iniciaram em seguida, ficando prontas às vésperas do carnaval.
O desfile de 1984, o primeiro a ser realizado no Sambódromo, foi o único em que se cumpriu a finalidade social da obra projetada por Oscar Niemeyer. O espaço sob as arquibancadas, destinado a que a população carente pudesse assistir ao desfile, a partir de 1985 foi ocupado por mesas e cadeiras, vendidas por preços maiores que os dos lugares de arquibancada, só perdendo para o custo dos camarotes (felizmente, o espaço dos camarotes seguiu sendo aproveitado por 210 salas de aula fora do período de desfiles).
A obra foi muito criticada. O carnavalesco Fernando Pamplona questionou a decisão do secretário de Cultura, Darcy Ribeiro, de não querer decorar o Sambódromo, contrariando uma tradição do carnaval e indo contra concurso da Riotur para decoração com resultado já anunciado. O diretor de harmonia da Beija-Flor, Laíla, viu como negativa a distância entre os sambistas e os espectadores das arquibancadas, esfriando o desfile. O Jornal do Brasil questionava a origem dos recursos para o projeto - o próprio João Otávio admitiu à Última Hora o estouro do orçamento: a previsão inicial era de 5 bilhões de cruzeiros, mas o Sambódromo custou 24 bilhões.
Criticado ou não, Brizola agiu em relação a este assunto, guardadas as devidas proporções, de forma semelhante à Legalidade: identificou uma dificuldade, imaginou o melhor modo de resolvê-la e fez. Seu Sambódromo mudou o carnaval do Rio de Janeiro e inspirou obras semelhantes em São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte.
- Making-off do texto - Texto publicado no Mistura & Manda do site Brasileirinho em 28.6.2004, uma semana após o falecimento de Leonel Brizola, e republicado no blog Jornalismo Cultural em 25.8.18 a propósito do aniversário de 57 anos do Movimento da Legalidade. Em 25.8.61, o presidente Jânio Quadros renunciou e os ministros militares se opuseram à posse do vice-presidente eleito, João Goulart. Brizola organizou a resistência da sociedade civil a partir de Porto Alegre, garantindo a posse de Goulart no dia 7 de setembro.
- A foto que ilustra o post, mostrando Leonel Brizola nos estúdios da Rádio Guaíba (Porto Alegre), é inédita e foi feita quando o ex-governador esteve no RS para a comemoração dos 40 anos da Legalidade, em agosto de 2001. Brizola participou do programa Espaço Aberto, comandado por Armando Burd (à direita). Vemos também à esquerda o radialista Fernando Veroneze. Em 2001 o dia 25 de agosto caiu num sábado, então como o programa ia ao ar de segunda a sexta, a foto ou é do dia 24 (sexta, o mais provável) ou 27 (segunda). Foi a única vez que vi Brizola vivo.
- A Guaíba tinha um estúdio na esquina das ruas Caldas Júnior com Andradas, visível da rua através de um vidro (o que no jargão de rádio se chama "aquário"). Tirei a foto com minha Zenit de filme, aproximando a objetiva o máximo possível do vidro, de modo a reduzir o reflexo. Creio ter obtido um bom resultado ao captar esta imagem.
- Posteriormente, estive no velório de Brizola, no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, na noite de 23 de junho de 2004. O ex-governador foi velado entre a tarde deste dia e a tarde do dia seguinte, seguindo então seu corpo para ser sepultado em São Borja (RS).
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