27/07/2017

A difícil arte de se divulgar (2)

Encerrei o textão da quinta passada prometendo falar hoje de como tenho feito a divulgação de meus serviços fotográficos fora do âmbito da internet, já que aquele texto tratava especificamente da divulgação online. 

Nesse capítulo minha experiência já é menos vasta, já que só muito recentemente passei a divulgar meu trabalho como fotógrafo. Quando iniciei, em Bento Gonçalves-RS, nos anos 1990, eu atendia a um nicho de mercado bem específico: concursos de rainhas de estudantes. A temporada de concursos durava poucos meses (se lembro bem, em geral no terceiro trimestre de cada ano), mas garantia na época uma bela complementação de renda ao meu trabalho em jornais e na rádio local. Quando mudei para Porto Alegre, em 1994, me voltei mais para fazer fotos para meu acervo e eventuais participações em concursos e exposições, de modo que não havia o que divulgar.

A primeira vez que fiz cartões de visita foi por volta de 1999/2000, quando investi no trabalho como cartunista. A internet ainda engatinhava no Brasil e para mostrar meu portfólio às agências de propaganda (o meu público-alvo da vez), um cartão era indispensável. Para situar como a coisa mudou, eu precisava ficar atento à chamada 'dança das cadeiras' das agências: toda vez que mudasse a pessoa responsável pela relação com os fornecedores (no caso, eu me candidatava a ser um 'fornecedor de cartuns' - risos), lá ia novamente visitar a agência (salvo se fosse alguém que já conhecesse o meu trabalho, quando então um simples telefonema era o suficiente) para mostrar de novo meu portfólio e, ao final, entregar meu humilde cartãozinho. Hoje uma conta no Instagram substitui com vantagens toda essa operação, que no final não resultou em nada. O máximo que consegui foi que uma revista de Porto Alegre adquirisse os direitos de publicação de um cartum meu. Fui pago, mas até onde sei a revista saiu de circulação sem publicar o desenho. 



Pouco tempo depois, a partir de 2002, quando lancei o site Brasileirinho, encomendei flyers de divulgação do site. O foco ali era obter acessos à página, na intenção de que, com bons números, eu conseguisse atrair anunciantes - e nesse ponto os recentes contatos com as agências de publicidade eram interessantes, ou ao menos eu entendia assim, pois não cheguei a ter um anúncio sequer ao longo dos 14 anos que o site ficou no ar. Mas consegui sim ter um anúncio no próprio flyer - o de um músico que oferecia aulas de violino. O anúncio ocupava as costas do flyer, que originalmente ficava em branco. 

O anúncio do músico entrava só no lote de flyers que eu distribuía em Porto Alegre. Pelo correio, enviei flyers para amigos que os distribuíam em festas em outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Tocantins. Creio que tenha parado de fazer o flyer ali por 2005 ou 2006. 


Só recentemente voltei a imprimir material de divulgação, pela primeira vez então do meu trabalho com fotografia. Foi um flyer no formato de uma foto impressa (10x15cm), com imagens de algumas modelos que fotografei, e focado unicamente na venda de pacotes de ensaios fotográficos. O material foi distribuído em Belém entre fevereiro e maio deste ano. Uma parte deixei em estabelecimentos comerciais com grande circulação de pessoas (restaurantes, lojas, cafés, óticas etc.), outra parte eu mesmo entregava a possíveis interessados ou ainda a amigos que pudessem distribuir. Na época que elaborei o flyer, cheguei a comentar com amigos que estava pela primeira vez buscando "expandir o nicho"; o fato é que, por mais que coloquemos nossas postagens em modo 'público' nas redes sociais, o mais das vezes quem as lê é sempre o mesmo pequeno grupo de amigos que curtem e comentam nossos posts. Por isso entendo que é fundamental investir em ações fora da internet, que permitam que meu trabalho possa vir a ser conhecido por gente que até aqui nunca ouviu falar de mim.

Bueno, o flyer novamente não trouxe o resultado esperado - em português claro, ninguém olhou meu número no flyer e pegou o telefone para me encomendar um ensaio. Os trabalhos pagos que fiz durante o primeiro semestre em Belém vieram do que chamo "abordagens diretas": foram encomendados ou por pessoas que já me conheciam, ou que visitaram a exposição As Tias do Marabaixo no Centur ou que me viram fotografando em algum lugar público. Nesses casos o flyer cumpriu a função de cartão de visita, servindo para que a pessoa soubesse como entrar em contato comigo (à exceção dos meus amigos, é claro, que já sabiam como fazê-lo :).



Tendo chegado a Maceió há pouco menos de um mês, me pareceu interessante voltar a trabalhar com cartões de visita, após mais de quinze anos da última experiência com esta mídia. Por um lado, ninguém me conhece na cidade, diferentemente do que ocorria em Belém. Por outro lado, cartões são uma opção mais econômica que um flyer - fora que percebi que as pessoas não sabiam bem o que fazer com o flyer quando o pegavam e acabavam dobrando-o para caber no bolso ou na carteira. Não posso avaliar ainda esta experiência em Alagoas, porque meu cartão ainda não ficou pronto; encomendei-o há quase duas semanas, porém ninguém confecciona cartões em Maceió, todas as encomendas são impressas no Recife (!). 



Resumindo a ópera: relatei três casos (cartão de visita em P.Alegre, flyer em P.Alegre e Belém) que, a rigor, não deram o resultado esperado. O que me anima então a voltar a usar este recurso em Maceió? Duas coisas, basicamente. A primeira, como já mencionei, é que aqui sou um desconhecido no mercado; um cartão é uma forma bem econômica de ter minha mensagem circulando. A segunda é que aprendi com um erro que cometi em Belém, e que foi a de imaginar que apenas colocando meu flyer em locais de grande circulação de pessoas isto automaticamente geraria encomendas de ensaios. 

A constatação desse erro não se deu agora, aqui em Maceió; ainda no Pará entendi ser necessário ter outras pessoas prospectando clientes para mim, seja na cidade onde eu estiver, seja em outros locais - o que me levou a criar uma rede de representantes (veja aqui como funciona e como se candidatar a trabalhar comigo). Até agora a rede não gerou nenhum contrato diretamente, mas com certeza já ajudou a tornar meu trabalho conhecido junto a pessoas que até ali nem desconfiavam da minha existência. Numa perspectiva de médio a longo prazo, me parece que a criação desta rede trará bons frutos. 

Outra solução para o problema eu estou aguardando ter o cartão em mãos para colocar em prática: além de deixar os cartões em pontos de grande circulação de pessoas, irei procurar diretamente empresas apresentando meu trabalho e propondo parcerias - e não descarto até mesmo me oferecer para fotografar turistas, com os celulares deles, em locais turísticos, e ao final entregando o meu cartão. Se a pessoa tiver interesse em mais fotos, saberá como me encontrar, e eventualmente poderá falar de mim para mais alguém (por isso, estou pensando até em sempre entregar dois cartões, e não apenas um!); se a pessoa não tiver interesse, ao menos fui gentil fazendo uma foto dela, sem custo algum para mim. Claro que o objetivo de um trabalho é ganhar dinheiro, o que afinal é necessário para a nossa sobrevivência, porém ser gentil não custa nada e ajuda a tornar o mundo melhor. 




* Fotos feitas na Estação das Docas - Belém, 15.6.17

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