23/05/2019

Arquivo 2014: Eu fotografei o Chico!


NOTA: Na terça, 21, Chico Buarque foi anunciado como vencedor da edição 2019 do Prêmio Camões, uma das maiores honrarias que um escritor de língua portuguesa pode almejar. Aproveito a ocasião para contar no blog a história desta foto de 1999 (completando 20 anos em pouco mais de dois meses, portanto).
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Em 1999, Chico Buarque incluiu Porto Alegre no roteiro das capitais que receberiam um show da turnê do CD As Cidades, lançado no ano anterior. Era minha chance de enfim ver um show dele, já que em 1994, quando ele se apresentou no Teatro da OSPA com o Paratodos, o ingresso estava custando absurdos 48 reais (se você acha pouco, lembre - ou saiba - que o salário mínimo da época era de R$ 64!). Comparativamente, muito mais caro que os 80 reais de 1999.

O show foi programado para o Teatro do SESI em três noites de agosto (bem durante as minhas férias, olha que lindo!), sexta 13, sábado 14 e domingo 15. Comprei dois ingressos, já que minha mãe também não podia perder esse espetáculo (ela igualmente nunca conseguira ir ouvir o ídolo), e contratamos os serviços de uma van que busca e deixa em casa (comum nas capitais do Sul e Sudeste). Escolhemos o domingo.

Tudo certo, ali por quarta 11 ou quinta 12 vi no jornal que Chico, antes do show de sexta, faria um debate público com o escritor Luis Fernando Verissimo, na Casa de Cultura Mario Quintana, tendo como ingresso cobrado apenas um quilo de alimento não-perecível. No começo da tarde de sexta 13, lá estava eu com meu quilo na mão, pegando ainda o início de uma fila que foi ficando quilométrica. Tudo certo, ainda deu tempo de eu passar em casa (eu morava a umas três quadras dali) buscar minha câmera (ainda era daquelas "de filme", analógicas) e voltar para pegar o memorável encontro no Teatro Bruno Kiefer da CCMQ (como os porto-alegrenses chamam a Casa que já foi um hotel, o Majestic, onde de fato o poeta Mario Quintana morou alguns anos).

Por uma hora e meia, o teatro lotado ouviu embevecido Chico e LFV lerem textos um do outro (Chico leu uma crônica de Verissimo sobre o ovo, foi nessa hora que bati a foto, enquanto LFV leu um trecho de Fazenda Modelo), contarem causos, lembrarem da amizade de seus respectivos pais (o historiador Sergio Buarque de Hollanda e o escritor Erico Verissimo), além de responderem a perguntas da platéia. Um espectador quis saber, diante de tanta eloqüência dos debatedores, onde estava a propalada timidez de ambos - ou se ela seria inventada... O encontro foi mediado por Ben Berardi, diretor da CCMQ à época. Gravado pela TVE (a emissora estatal gaúcha), o debate foi exibido na noite daquela mesma sexta. 


Luis Fernando Verissimo, Ben Berardi e Chico Buarque
13.8.1999
(foto: Fabio Gomes)



Pouco após o final do debate, eu estava conversando com alguns amigos no térreo da CCMQ, quando vimos Chico passar, falando alegremente com algumas crianças, a poucos metros de onde estávamos e em seguida entrou num carro que viera buscá-lo. Afinal, em poucas horas tinha a estréia da turnê! 

Circulam lendas em Porto Alegre que numa das noites em que esteve na cidade Chico retornou à CCMQ, indo conferir um show no café do terraço, então chamado Café Concerto Majestic, e que gostou tanto do que estava rolando que, pela ÚNICA VEZ NA VIDA, levantou-se da mesa e foi dar uma canja ao microfone - o que eu particularmente acho mega improvável, mas enfim... há quem jure. 


  • Making-off do texto - Publicado originalmente em 19.6.14 no blog Jornalismo Cultural com o título Especial Chico Buarque 70 Anos (6): Eu fotografei o Chico!, numa série de sete posts que fiz por ocasião desta "data redonda". O último deles, aliás, contando um sonho que tive com Chico em 2006 (com direito a participação especial de Gal Costa!).


  • A canja mencionada no final, se realmente existiu, deixou de ser a única em 2015, quando Chico deu duas canjas no Bar Semente (Rio de Janeiro), nas noites de 10.2 e 20.5. Sobre estas não resta a menor dúvida, pois foram filmadas e postadas no YouTube. A de Porto Alegre, se alguém presenciou, não tenho como garantir. De resto, seria praticamente impossível haver filmagem, pois em 1999 seria preciso haver uma equipe de TV ou mesmo de cinema para fazer isso. Enfim, fica registrada a lenda. 



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