Agora pela manhã estive num atelier de moda aqui em Maceió, que havia me encomendado fotos publicitárias com modelo. Não tendo chegado a um acerto, quando eu já estava quase saindo, a gerente do local quis saber quanto eu cobraria para fotografar um vestido em um manequim do estabelecimento. Pensei um pouco e falei: Cinquenta reais.
Não preciso dizer, né, que a gerente arregalou os olhos e retrucou: Nossa, eu achei que daria no máximo 10 reais... Aí falei que no mínimo eu teria que ir ao atelier duas vezes: uma com minha câmera, com as pilhas carregadas, para fazer a foto - aliás, só uma não, no mínimo eu faria umas 10, é dificílimo você fazer só uma foto e ela sair divina-perfeita-maravilhosa (claro que não é impossível), depois disso retornaria à minha casa para editar as fotos; e voltaria ao atelier com a(s) melhor(es) foto(s) editada(s) em CD. Em resumo, eu não estaria cobrando pelo produto fotografia, e sim pelo meu serviço prestado (leia mais sobre fotografia ser produto ou serviço aqui). Além disso, há a questão de a foto solicitada estar sendo feita sob encomenda para fins publicitários - dificilmente em propaganda é dado o crédito ao fotógrafo, que além disso fica impedido de utilizar essa foto para outros fins. Tudo isso influi no valor.
Sem dúvida este é um dos temas mais controversos quando se fala em viver de fotografia. Raramente, aliás, pensamos em termos de quanto custa uma foto?, esta é em geral uma dúvida trazida pelos clientes - em parte, um resquício do tempo da fotografia de filme, como mencionei no texto linkado acima, e que só me parece fazer sentido se o cliente quiser comprar uma foto do meu acervo (o que jamais me aconteceu, todos querem fotos feitas especialmente). Claro que já no tempo da foto de filme havia profissionais que cobravam a chamada "saída" (ou seja, as horas que o profissional estará dedicando ao cliente), mas a praxe na época era a venda das fotos reveladas e impressas. A etapa da edição, que hoje cabe ao fotógrafo, não existia; em seu lugar, havia a revelação do negativo, que já não há, e que cabia ao laboratório. Ou seja, por melhor que seja a digitalização da Fotografia, é fato que hoje o fotógrafo tem mais trabalho do que tinha no modelo anterior. E tudo influi no valor.
Como os clientes querem fotos feitas especialmente, seja o registro de um passeio em família, seja o anúncio de sua loja, o que acaba acontecendo é que cada fotógrafo tem uma tabela de valores de referência, que são adaptados ao que cada cliente especificamente quer (eu, ao menos, trabalho assim). E, logicamente, há os chamados pacotes, que são uma oferta que o profissional faz de determinadas condições por um valor X, ao qual o cliente pode (ou não) aderir - exemplo: o meu pacote de ensaio fotográfico.
O quanto cobrar é de fato um equilíbrio bem sutil: por um lado, precisa cobrir a dedicação que o profissional terá (incluindo seu material, seu tempo e seu conhecimento), por outro, precisa ser acessível ao cliente. E aí podemos citar a frase final [SPOILER!] do filme Hitch - Conselheiro Amoroso: "Regra nº 1: Não há regras" [FIM DO SPOILER]. Vejo, em sites, blogs e cursos online, recomendações para que o fotógrafo liste tudo que o seu trabalho envolve, incluindo tabelas para calcular a depreciação do material, mais uma espécie de fundo para renovação do material de trabalho etc etc, chegando-se a um valor X que deve ser dividido pelo número de trabalhos que o profissional espera fazer no mês, chegando-se então ao valor que ele deveria cobrar a cada trabalho.
Penso que aí reside a fragilidade desse cálculo: é impossível você saber quantos trabalhos serão encomendados ao longo do mês - e se você tem vários pacotes, impossível prever quantos serão solicitados de cada modalidade, fora a terrível-mas-real possibilidade de não aparecer encomenda alguma. Vou dar um exemplo que, creio, demonstra como essa linha de raciocínio amparada no número presumido de encomendas é frágil. Digamos que você apurou que seu custo mensal é de R$ 2.000,00, então se você espera ter 4 encomendas, pode cobrar R$ 500,00. Porém o mês avança e lá pro final você consegue só 2. Aí vai fazer o quê? Cobrar R$ 1.000,00 de cada cliente?
* Fotos feitas ontem na praia de Cruz das Almas, Maceió
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