Não sou muito afeito a publicar retrospectivas de final de ano (ou, neste caso, já no início do ano seguinte), mas entendo que em relação a 2016 é interessante tornar públicas reflexões que fiz sobre minha própria carreira no ano que acabou há duas semanas. Um dos fatores que me animou foi uma tendência de pensamento que circulou justamente no ano passado e que aconselhava a falar sobre nossos próprios fracassos - há quem preconize que você deva montar um currículo específico, apenas para relatar onde fracassou. Não chego a tanto.
Até porque não poderia, de forma alguma, definir meu 2016 como um fracasso, longe disso. Algumas coisas não saíram como o planejado - o que, evidentemente, acontece todos os anos. O legal de olhar em retrospectiva é perceber como, algumas vezes, esse "não dar certo" em determinadas ocasiões nos permite imprimir uma mudança de rumos, que não aconteceria se tudo tivesse seguido o script original. Essa longa mirada nos permite ver como as coisas vão se encaixando (ou não) e fazendo sentido (ou pelo menos eu entendo assim, ok?).
Antes de falar de 2016, um breve compacto de 2015 que vai ajudar a entender o porquê do uso da palavra fracasso ali acima. Na real, preciso recuar um pouquinho mais: 2014 pode ser apontado como o último ano em que houve um efetivo interesse das bandas da Amazônia em terem seu material divulgado no meu blog Som do Norte, no ar desde 2009 e meu principal trabalho desde então. Esse ainda era o clima no começo de 2015, o que me animou a lançar a série de entrevistas Café com Tapioca. Porém, ao longo do primeiro semestre, registrei uma série de recusas de músicos a convites de entrevistas - nunca uma recusa direta, claro, mas aquele lance de dizer que está muito ocupado, ou - o mais usado - a simples ausência de resposta mesmo, o popular vácuo que a moçada fala. Isto me levou já em junho de 2015 a publicar uma nota explicando porque o blog estava sendo menos atualizado do que de costume. E de fato, a partir daquele mês, nunca o Som do Norte teve mais de 7 posts por mês - no auge do blog (2009-14), às vezes essa cifra era atingida em 2 dias.
Bueno, e o que isso tem a ver com meu trabalho como fotógrafo e cineasta? Tudo. Na medida em que notei que as bandas optavam por falar diretamente com seu público através das redes sociais, entendi que era o momento de não só fazer o mesmo, como também de pegar a estrada para mostrar meu trabalho - especificamente a exposição itinerante com fotos d'As Tias do Marabaixo e os curtas da mesma série, lançados entre fevereiro e abril de 2015. Então em junho de 2015 peguei um navio no porto de Santana (AP) rumo a Belém, iniciando a viagem em que percorri 11.920 km pelo Brasil em cinco meses. Estive nos estados do Pará, Tocantins, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas; em três deles, consegui exibir meus curtas e expor minhas fotos, tudo isso sem edital nem patrocínio, chegando nos lugares com a cara e a coragem. Além disso, durante a viagem criei e lancei uma nova atividade, a Oficina de Cinema Independente. Isto com certeza me deixou muito confiante para o passo seguinte, que iniciei antes mesmo de retornar a Macapá em novembro de 2015 - a ideia de publicar o livro com uma seleção de fotos que fiz d'As Tias do Marabaixo.
Anunciei em dezembro a pré-venda, pela internet, do livro, numa campanha que foi até janeiro de 2016. Apenas duas pessoas se interessaram pela possibilidade de adquirir o livro antes do lançamento, o que evidentemente estava muito longe de permitir cobrir os custos de uma edição. Em função disto, lancei a campanha Vamos Sonhar Juntos, oferecendo ensaios a preços promocionais para qualquer ponto do Brasil (a viagem do ano anterior me sinalizava que isto era viável). As inscrições foram de fevereiro a abril de 2016 e ao final delas eu tinha 30 pessoas interessadas, em 16 estados do país (apenas da Região Sul não houve inscrição).
Iniciada a viagem em abril, começou uma rotina nada positiva - eu chegava na cidade onde havia uma ou mais pessoas inscritas, informando-as da minha presença e já querendo marcar o(s) ensaio(s). Quase sempre a resposta era que a pessoa iria pensar, ou que não poderia naquela data (que eu já havia comunicado previamente), ou que achava o valor do ensaio caro (sendo que ela já soubera do valor ao se inscrever). Isto aconteceu comigo em São Luís, João Pessoa e Maceió, e me levou a desistir de continuar a viagem. Contatei as pessoas inscritas dos demais estados, informando do ocorrido e, no geral, a maioria das pessoas me apoiaram.
A decisão de suspender a viagem aconteceu já na metade de junho, em Maceió; até ali, eu havia feito alguns ensaios da campanha em Macapá e Belém, apenas. Novamente o arrecadado não permitia que eu editasse o livro. Mas enfim, não culpo quem desistiu do ensaio sem informar previamente; o principal responsável por este fracasso fui eu mesmo, ao montar um plano que só iria funcionar se ninguém desistisse (ou houvesse, o que seria natural, alguma desistência aqui e ali), mas que evidentemente desmoronaria se houvesse uma sequência de cancelamentos, como acabou ocorrendo (em minha defesa, posso alegar que jamais imaginaria tal sequência! rir pra não chorar).
Enfim, era metade de junho e eu estava em Maceió. O compromisso seguinte agendado era o ensaio com Bruna Xavier, em Mato Grosso, no mês de agosto. Optei por ficar na capital alagoana nesse intervalo de tempo (sairia bem mais caro retornar a Macapá e de lá ir para Rondonópolis). Foi exatamente aí que aproveitei para lançar este blog, ideia que havia me ocorrido em maio, quando estava no Maranhão.
Foto do ensaio com Bruna Xavier,
feito em agosto em Rondonópolis-MT
O lançamento deste blog, em junho, acabou oficializando, de alguma forma, a predominância do meu trabalho como fotógrafo sobre o lado jornalista, o que, extra-oficialmente, já se desenhara um ano antes, com aquela nota no Som do Norte e o início da viagem dos 11.920 km. Mas, longe de significar uma aposentadoria precoce como jornalista (muitos risos), na verdade este blog acabou promovendo um encontro das duas profissões, pois a cada post do trabalho do fotógrafo, está o jornalista informando onde a foto foi tirada, o que está ali retratado, resultando até em textos longos, por vezes.
O blog começou com um volume modesto de acessos, não passando de 2 mil/mês até agosto, mas desde setembro vem se mantendo na faixa de 6 a 7 mil acessos/mês, o que considero incrível numa fase em que as redes sociais predominam.
Retornando a Macapá em setembro, priorizei o envio de projetos a editais culturais, obtendo algumas vitórias. Meu curta Tia Biló foi escolhido para abrir a Mostra Cine Redemoinho, em Angra dos Reis (RJ), em novembro. E, já no finalzinho do ano, o projeto As Tias do Marabaixo foi selecionado para a programação 2017 da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
Em relação à apresentação de obras minhas durante o ano, posso citar a exibição do curta Tia Biló para os alunos da segunda Oficina de Cinema Independente, que realizei em abril em Belém. Já em junho, cenas de Tia Zezé no Encontro dos Tambores foram incluídas em entrevista que concedi à TV Cultura do Pará, sobre os sete anos que o Som do Norte completou em agosto. E fotos minhas estiveram expostas no Porto Velho Shopping em novembro.
Embora no geral os editais voltados às artes tenham diminuído após o final do governo Dilma, nas áreas de cinema e fotografia essa redução não aconteceu. Até porque os profissionais brasileiros destas linguagens têm a oportunidade de se inscreverem em editais lançados no exterior também. :)
- Então fica aqui essa dica: se você trabalha com artes, em especial fotografia e cinema, garimpe editais na sua área. Sempre é possível encontrar boas oportunidades.
Outra providência que adotei, esta a partir de outubro, foi criar perfis em sites profissionais para fotógrafos (alguns deles também aberto a modelos, permitindo que ambas as categorias dialoguem diretamente), a maioria do exterior. Isto tem feito minhas fotos serem vistas e comentadas por profissionais renomad@s que muitas vezes não têm referência alguma anterior sobre os temas que retrato em meu trabalho - mas que com certeza entendem de fotografia! ;)
- Temos então a segunda dica: se você fotografa, não divulgue seu trabalho apenas no Facebook, onde ele será visto, na maior parte das vezes, apenas por seus amigos (e não necessariamente seus amigos se tornarão seus clientes). Crie seu blog (que não tem custo) ou site e também publique no Instagram. Cadastre-se também em sites que tenham a ver com seu nicho (se seu foco for trabalhar com modelos internacionais, a dica é o Model Mayhem; se você quiser focar em modelos inglesas, o Purple Port).
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